Trazendo a presença de Deus
Êxodo 33:15: "Então lhe disse: Se tua presença não fores conosco, não nos faças subir daqui."
No original hebraico, a palavra "presença" פָּנִים (pānîm), transliterada como "paniym", muitas vezes é traduzida no singular como "rosto" ou "face", dependendo do contexto. No sentido literal, paniym refere-se à face humana, a parte mais visível e expressiva da pessoa.
O texto hebraico usa "paniym" – ou seja, “Minha face irá contigo”. Isso comunica mais que proximidade física: refere-se à presença pessoal, íntima e ativa de Deus. Paniym, apesar de ser a “face” externa, também aponta para o interior do ser. Quando se fala em buscar a face de Deus, trata-se de buscar a essência do Seu ser, não apenas um favor.
Ver o "paniym" de alguém é estar em um relacionamento direto, face a face. Em Gênesis 32:30, após lutar com o Anjo, Jacó diz: "Tenho visto Deus face a face (paniym el paniym) e a minha alma foi salva.” Aqui, "paniym el paniym" indica uma "experiência direta e transformadora".
Então, quando falamos de ver o "paniym" de Deus, ou seja, a face de Deus, não falamos de um rosto físico, mas de intimidade revelacional; ou seja, eu só conheço em profundidade a revelação de quem Deus é à medida que procuro por intimidade; à medida que busco por relacionamento; à medida que prossigo em conhecê-lo. (João 17.3)
O que precisamos entender, de acordo com o tema deste texto, é que a palavra TRAZER tem o mesmo significado que: [ser portador de]; e, ser PORTADOR significa: [que traz consigo].
Mas ninguém traz consigo aquilo que não conhece. Para ser portador de algo, necessariamente precisaremos conhecer a funcionalidade daquilo que transportamos. Para comprarmos um produto, primeiro, conhecemos, analisamos, testamos o mesmo, e depois, levamos para casa e usamos no dia a dia.
Em todos os âmbitos da vida, isto sempre ocorre desta forma: Primeiro, conhecemos, depois, compramos e levamos. Primeiro, conhecemos, depois, transportamos. Primeiro, conhecemos, aprofundamos em relacionamento, para só depois, o noivado e casamento serem executados.
O que Deus está dizendo para nós neste texto, é que o povo israelita, que pereceu no deserto, era portador de algo grandioso, mas não davam a mínima para aquilo que de precioso levavam consigo. Eles tinham Deus e todas aquelas manifestações divinas que os guiaram em segurança por meio do deserto, porém, ainda assim, diz a palavra que: "[...]Deus não se agradou da maior parte deles, por isso foram prostrados no deserto." (1 Coríntios 10.5)
A pergunta que não quer calar: Por quê Israel agiu desta forma, irritando ao Senhor? Porque para os Israelitas, pelo menos, para uma grande maioria deles, Deus era funcional, ou seja, é aquilo que tem uma função específica ou serve para uma finalidade prática. Eles estavam usando a Deus, pois era Ele quem os tornava capazes para a execução de determinadas tarefas, fazendo-os alcançar o resultado que queriam. Neste caso: chegarem até Canaã!
Em outras palavras: Israel tinha um relacionamento de interesse com o Eterno. Deus devia sentir-se usado e pressionado, porque Ele liberava a benção, fazia prodígios, guiava o seu povo com segurança em meio a um cenário perigoso, mas, ainda assim, parecia que tudo aquilo não era o suficiente.
Veja:
Quando saíram do Egito, os egípcios os perseguiram. Deus abre o mar vermelho e eles passam a seco. (Êxodo 14.13-22) Quando chegaram a Mara, estavam com sede, mas não puderam beber porque a água era amarga. Deus, então, tornou a água doce e boa para consumo. (Êxodo 15:22–25)
Ainda no deserto, sentiram fome, e murmuraram, dizendo: "[...]Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do SENHOR, na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne e comíamos pão a fartar! Pois nos trouxestes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão." (Êxodo 16.3)
Mas Deus, como é riquíssimo em misericórdia e não nos trata de acordo com as nossas iniquidades (Salmos 103.8-10), disse a Moisés: "[...]Eis que vos farei chover do céu pão, e o povo sairá e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu ponha à prova se anda na minha lei ou não." (Êxodo 16.4)
Percebeu que para cada necessidade do povo e suas reclamações, Deus enviava o socorro, o livramento, e a provisão? E por causa dessas reclamações e murmurações, Deus irritou-se com Eles e disse: "[...]Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente." (Romanos 10.21; Isaías 65.2)
O problema daquela geração que pereceu no deserto não é diferente de muitos da geração de hoje, pois, estamos servindo a Deus, e estamos no caminho, por interesses pessoais, porque Ele é útil, e serve para nos dar o que desejamos, fazendo-nos funcionar para alcançar aquilo que queremos.
Estamos usando a Deus. Estamos fazendo de Deus um trampolim para o nosso sucesso pessoal. Queremos Deus, não para termos intimidade e crescermos em relacionamento, mas, para tê-LO como um amuleto pessoal da sorte. Muitos da igreja, hoje, estão cheios de crendices, cheios de tradições, humanas, é claro, cheios de superstições, para satisfazerem os próprios desejos pessoais, enquanto os interesses de Cristo e Seu Reino, são negligenciados. (Colossenses 2.8)
Mas por que muitos da igreja do século XXI estão agindo desta maneira? Porque, de uns anos para cá, temos ouvido mensagens que são verdadeiras massagens no nosso ego. Mensagens que não causam nenhum tipo de arrependimento em quem as ouve; porque, ao invés de pregarem a palavra pura, sem mistura, pegam Jesus Cristo, colocam-no de lado, e cultuam a exaltação do Eu. Preste atenção: toda teologia que deixa Cristo de lado não é teologia, mas antropocentrismo disfarçado de adoração. É o homem no centro de tudo.
É claro que existe uma parcela de responsabilidade pessoal, pois a salvação é individual. Mas, deveríamos fazer como o povo de Beréia que, de bom grado, receberam a palavra, e examinavam cada dia nas escrituras sagradas se aquilo que Paulo e Silas ensinavam, de fato, eram assim. (Atos 17.11) Mas o povo tem estado tão sedento, tão cheio de fome e sede espiritual, que esses charlatões da fé trazem uma comida santa misturada com aquilo que é profano. Com isso, muitos são enganados, e levados por falsas doutrinas. (Hebreus 13.9)
Como citei anteriormente, primeiro, conhecemos, passando, então, para a fase do relacionamento, e uma vez o relacionamento ficando mais íntimo, no sentido de conhecer mais a fundo aquele ou aquela que se pretende construir uma vida juntos, logo em seguida, vem o noivado e o casamento.
Entre Cristo e a igreja não é diferente. Primeiro, chegamos a ouvir falar de Cristo, conhecendo-O por meio da palavra, que gerou em nós o desejo de recebê-lo. (Romanos 10.17) Depois, nosso relacionamento vai se estreitando (Efésios 5.22-33), até que um dia, o destino final de todo este relacionamento será confirmado quando casarmos com Ele, o nosso noivo, por ocasião da segunda vinda de Cristo, e celebraremos este casamento nas bodas do cordeiro. (Mateus 25.1-13; Apocalipse 19.7;19.9)
Só que existe um porém: Todo relacionamento passa pelas fases duras da vida. São as crises que chegam sem avisar. Os percalços do caminho, que são muitos. As adversidades que parecem, por vezes, trazer um peso maior do que aqueles que podemos suportar. Com isto, aquilo que era fogo no começo, aquilo que era intenso e constante, passa a cair na mesmice e rotina.
Daí não oramos como deveríamos orar; não jejuamos mais com tanta frequência; a leitura da palavra já não é tanto a nossa prioridade, e ao invés de buscarmos em primeiro lugar aquilo que é eterno (Mateus 6.33), priorizamos e empregamos muito maior força em buscar as coisas passageiras, onde a traça e a ferrugem a tudo consomem. (Mateus 6.19)
Agora, relacionamento onde apenas um é beneficiado por colher os frutos do outro não é relacionamento, é jogo de interesse. (João 15.1-2) E era esta a postura de Israel diante de Deus, pois eles andavam sempre murmurando, reclamando, e traziam à memória aquilo que o Egito os oferecia na época em que eram escravos: pães, carnes, peixes, cebolas e alhos. (Êxodo 16.3; Números 11.5; 21.5)
O que a palavra está nos alertando é que eles pertenciam a Deus, pois eram um povo escolhido; recebiam dos benefícios de estarem ligados ao Eterno, assim como um ramo se beneficia de estar ligado à videira, mas, infelizmente, Israel não dava frutos. Eles eram estéreis. (João 15.1-2; Mateus 21.18-19)
É preciso entendermos que toda esta mensagem nos aponta para um profundo relacionamento com Deus e com seu filho Jesus Cristo; e que existe uma responsabilidade pessoal que nos convida a lançarmos fora toda esterilidade em nossa vida, e a produzimos frutos dignos daquilo que trazemos: a presença de Deus. (Lucas 3.7-9)
Moisés era familiarizado com a "presença". Ele tinha relacionamento com o Eterno. Isto é tão verdade que o próprio Deus diz a seu respeito em Números 12.6-8: "[...]se entre vós há profeta, eu, o SENHOR, em visão a ele, me faço conhecer ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Face a face falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a forma do SENHOR[...]".
Todo relacionamento não nasce de uma hora para outra. As fases de um relacionamento pode ser comparado com uma construção, onde cada etapa desta construção tem a sua importância. É por isso que Moisés disse a Deus em Êxodo 33:13: "Agora, pois, se tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que me faças saber o teu caminho, e conhecer-te-ei, para que ache graça aos teus olhos; e considera que esta nação é o teu povo."
Quando Moisés pediu para saber o caminho de Deus, não era somente pedindo que o Senhor o guiasse por caminhos certos até o lugar de vitória. Está certo que necessitamos sermos guiados nesta vida pelo poder de Deus, pois às vezes, ou muitas vezes, não sabemos que direção tomar.
O que Moisés está dizendo é que o caminho de Deus influencia toda a nossa maneira de viver. É como se Moisés estivesse dizendo: O teu caminho me transforma (João 3), o teu caminho traz leveza (Mateus 11.28-30), o teu caminho me livra da morte (Salmos 23.4), o teu caminho me traz vida (João 14.6), o teu caminho me transportou das trevas para o Reino do filho do seu amado (Colossenses 21.13), o teu caminho traz claridade ao meu caminho. (Salmos 119.105)
Agora, acompanhe a leitura de Hebreus 3:7-11: "Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia da tentação no deserto, onde os vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, e viram as minhas obras por quarenta anos. Por isso, me indignei contra essa geração e disse: Estes sempre erram no coração; eles também não conheceram os meus caminhos. Assim, jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso."
Israel tinha o Deus do caminho, mas estavam perdidos dentro do próprio propósito. Isto porque não priorizaram ao Senhor, e a sua relação com Deus era superficial. Será que estamos trilhando o caminho na certeza de estarmos agradando ao nosso Pai, ou estamos agradando a nós mesmos, seguindo nossos próprios passos?
Naquele grande dia, o dia do acerto de contas, onde todos compareceremos diante do tribunal de Deus (Romanos 14.10-12), teremos muitas surpresas. Saber que vivemos na terra prestando serviço a Deus, para no final ouvirmos: "[...]Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade" (Mateus 7.23), nos faz repensar que tipo de evangelho estamos vivendo, e em que caminho temos andado.
O que o povo de Israel nos prova com sua história, é que podemos estar na luz, e ao mesmo tempo andarmos em trevas. É possível vermos prodígios, milagres e maravilhas, e estarmos pensando naquilo que o mundo nos oferecia no passado e tem a nos oferecer no presente. É possível estar em Cristo e estar perdido. Pior que deixar o caminho, é estarmos perdidos dentro dele, não sabendo discernir aquilo que carregamos e transportamos de precioso: a presença do Espírito Santo.
Jesus Cristo está nos chamando hoje para o Seu caminho, que é um caminho de intimidade e relacionamento sinceros, que operará em nós transformação e salvação. Ele te convida a não rejeitar Sua voz, a não endurecer (ser obstinado) o coração, e a recebê-LO de bom grado. Ele tem mudança, libertação e salvação, para sua vida e família. Receba-O hoje. Amanhã poderá ser tarde demais.
Ore comigo: "Senhor Deus, aprendi que devo ouvir Sua voz e obedecer. Que nosso relacionamento deve ser sincero, o que gerará em mim frutos que louvam o Teu nome. Não deixes que eu venha me perder de ti. Tu és a minha fonte de vida. Eu te recebo hoje. Eu te recebo agora, como meu Salvador e Senhor. Escreve meu nome no livro da vida. Oro em nome de Jesus. Amém".